sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Retorno ao Sertão

A migração de Nordestinos para a região Sudeste do país, em especial, para a cidade de São Paulo, é um caso recorrente desde a década de 50. Segundo pesquisas feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), baseada no Censo 2010, o processo de migração foi intenso, principalmente, nos anos de 1950 e 70, ocorrendo certa mudança em 1990, onde essa população começou a retornar a sua região de origem, mas que também perdeu força com o passar dos anos. 
O motivo pelo qual esse povo vem a migrar para as grandes cidades, está quase que unanimemente ligado à busca de uma melhor forma de vida, concomitantemente com o grande desemprego, por falta de políticas públicas eficazes, e a falta de chuva que decerto assola o interior dos estados do Nordeste. Estes fatores, entre tantos, justificam o motivo pelo qual o sertanejo do estado de Alagoas, que é o meu foco, e de outros estados do Nordeste tem uma forte ligação com a migração.
Numa entrevista feita, na data 22 de Agosto de 2014, a pessoa de Cleiton Júnior de Jesus Xavier, estudante do curso de História da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), e prestador de serviço público, nordestino, atual residente na cidade de Pariconha, alto sertão alagoano, a respeito de sua migração para a cidade de Maceió-AL, no ano de 2009, ele discorre a respeito dos motivos que o levaram a buscar uma vida fora do seu povoado "Sítio Jardim", município de Água Branca, também sertão alagoano.
"Um dos motivos ou o principal motivo que me fez migrar para a cidade de Maceió, foi o mercado de trabalho que aqui não encontramos, e isto é ainda uma área muito deficiente aqui no Sertão e, a partir do momento que alcancei certa idade, como no meu caso, os 21 (vinte e um) anos, recém formado no ensino médio, e não encontrei oportunidades de trabalho, me senti sufocado e com a necessidade de viajar, com o principal intuito de conseguir um trabalho", diz Júnior.
No decorrer da entrevista, Júnior, como prefere ser chamado, fala também sobre a influência que a falta de chuva fez para sua migração, e faz para que tantos outros sertanejos migrem. Como trabalhador rural que foi, diz que o trabalho da roça “é aquele trabalho que não leva a uma progressão financeira, apenas prende o homem a terra, servindo como um meio de subsistência”.
Lamentou o fato de ter que migrar para poder conseguir um trabalho, e a angustia que é trazida por esse motivo. Na verdade sua intenção era tentar progredir perto dos seus familiares e amigos, e a não concretização de sua vontade na época, o trouxe certa frustração.
Falou sobre a nova realidade encontrada na cidade de Maceió no ano de 2009, onde disse ter se sentido uma pessoa estranha, pelo motivo de ter saído de um lugar tranquilo, que estava acostumado, e que conhecia todas as pessoas, se deparando com um lugar onde é muito agitado, e o ritmo de vida é outro. E em alguns momentos essa “correria” e a não tranquilidade, o fez sentir muita saudade da família, amigos e das coisas simples que encontrava no Alto Sertão.
Em relação à recepção dos maceioenses e outras pessoas (também migrantes) que lá vivem há algum tempo, citou pontos positivos, como por exemplo, as ajudas que obteve e novas experiências compartilhadas, assim como um pequeno progresso de vida, coisa que para ele não teria acontecido caso não tivesse migrado. Todavia, falou sobre o preconceito que há da parte de algumas empresas, quando os sertanejos tentam se engajar no mercado de trabalho, por achar que estes não são capazes de desempenhar um bom trabalho. Disse ainda sobre a grande violência que atormenta a cidade de Maceió e o assalto que sofreu: “tudo que passei na vida, longe da minha cidade, me serviu de aprendizado”.
Cita alguns motivos que o fez retornar para o Alto Sertão: "por um lado consegui trabalhar, mas por outro, perdi a tranquilidade que encontrava no interior, lugar propício para criar minha filha". Cleiton vive hoje na cidade de Pariconha, teve sua empregabilidade garantida através de concurso público, e conquistou  novamente a tranquilidade que o lugar oferece para conviver com sua família: pais, irmãos, esposa e filha. Diz estar muito feliz por ter retornado ao seu lugar.          


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